segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A LOCA DO CARANGUEJO


Tenho uma legião de amigos gays com quem freqüentemente troco confidências sobre as nossas experiências sexuais. As bibas adoram ostentar bofes bem dotados e disputam cada milímetro pra garantir que o seu troféu é maior que o da colega.Todas concordam que de nada vale o garotão sarado da academia ter uma barriga de tanque e lá embaixo se esconde uma torneirinha miserável incapaz de deixar molhadinho o nosso jardim.(...).(Para continuar lendo, tome seu Isordil primeiro).

O problema são os extremos. Lembro que na minha infância, eu e uma prima mais assanhada ainda, fazíamos o” teste da régua” nos irmãos e nos primos pra ver o crescimento dos seus pedigrees, aqueles que apresentavam baixa produtividade eram orientados a fazer “justiça com as próprias mãos” para tentar escapar daquela triste sentença que a genética lhes impunha.A maioria era aprovada com louvor no teste, devo dizer que nesse ponto os Motta sempre foram superiores aos Moreira Lima. A atividade lúdica de minha saudosa infância me rendeu um parâmetro de normalidade muito útil quando iniciei minha vida sexual.Hoje só um olhar superficial já é o bastante para identificar qual o macho da minha pontuação e qual devo descartar. É bem verdade que, às vezes, existe a chamada “propaganda enganosa”. Adormecido promete te levar ao paraíso, mas quando acorda não é capaz de te conduzir nem ao segundo encontro.Esse amigo qualhira de quem lhe falei viveu o outro lado da história. Já tinha visto o bofe se trocando uma vez, mas não lhe despertou o menor apetite. Foi sem qualquer empolgação que numa noite solitária apelou pro plano B e recebeu em casa o garotão afobado que foi logo tirando a roupa.Ele pediu pra ir no banheiro pensando em dar como quem faz uma caridade, só pra não perder o costume. Quando voltou pro quarto, o blecaute dominava o ambiente. O que ele achou ótimo, pois não gostava nem de ver uma miséria daquela.Deitou-se na cama, de quatro, quando sentiu um volume extraordinário entre suas coxas. De cara não ligou o nome à pessoa. No meio daquele breu se sentiu o próprio Jatobá da novela América. Aos poucos reconheceu aquela parte tão familiar da anatomia masculina que agora lhe parecia tão assustadora. Em segundos passou de um personagem a outro. Se sentiu o próprio Tião a desafiar o Touro Bandido.Veado odeia perder pras nigrinhas. Pensou consigo mesmo: “não há nada que uma rachada encare de frente que eu não possa suportar de olhos fechados".Ainda teve tempo de cometer uma heresia: pediu ajuda à Nossa Senhora e entregou pra Deus. O bofe não teve clemência e entrou de uma vez sem fazer cerimônia nem dizer eu te amo pra amenizar o sofrimento daquela pobre criatura.Depois “que tudo se ajeitou” ele rezou pra que o jovem tivesse ejaculação precoce, algo relativamente comum na sua faixa etária. Cada segundo parecia uma eternidade. Naquele momento sua alma conheceu o purgatório, pagou todos os pecados e ainda ficou com saldo positivo pra gastar em suas próximas encarnações.Finalmente um grito de esperança ecoou na madrugada. O êxtase nunca tão ansiado aconteceu. Aleluia. Não tinha mais dúvidas: Deus existe.Só faltava um “pequeno” detalhe: tirar o time do campo. Foi aí que lembrei da loca do caranguejo. Uma imagem cotidiana pra mim que fui criada na praia da Ponta d'Areia.O pescador enfia o braço na lama, apanha o caranguejo lá no fundo e puxa o braço devagar pra não perder o crustáceo no caminho. O produto ficou impróprio para o consumo por alguns dias. Foi sentando de ladinho que meu confidente recebeu o meu conselho: aquele era o típico amante- salário: só dá uma vez por mês e olhe lá. Depois deixa o cu de quarentena pra se recuperar.

Por Mônica Moreira Lima